Após leitura do livro “A imagem no ensino da arte” de Ana Mae Barbosa, percebi outra forma de encarar a análise literária. Ou seja, porque não trabalhar a cultura visual, a arte e a literatura de forma imbricada. A proposta de Ana Mae se fundamenta em três pilares: conhecer arte, apreciar arte e fazer arte. Hoje estes pilares adquiriram novas designações: apreciação, contextualização e produção.
Levando em consideração as particularidades de cada área de conhecimento (arte e literatura), talvez a proposta triangular possa servir como inspiração para o ensino de arte e literatura. Para tanto, é necessário esmiuçar cada categoria, fazer ajustes na sua definição, torná-las mais maleáveis (leitura, interpretação e produção de textualidades? ou outra designação). O conceito de textualidade é pensado em relação a teorias de texto que priorizam os aspectos lingüísticos, sociais e comunicativos para sua análise. A compreensão de que a significação de um texto não se encerra nem se resolve nele mesmo, mas se produz na relação desse texto com o contexto e na relação autor-leitor, é fundamental.
Neste ponto, acredito que Bakhtin ofereça uma perpectiva teórica a ser desbravada.
Para o autor, a linguagem está presente em todos os campos da atividade humana. A interação entre os interlocutores (autor/leitor) possui caráter dialógico. A noção de interlocução exige o envolvimento de no mínimo dois participantes (autor/leitor). Além disto, através do enunciado do autor podemos identificar um terceiro locutor. O enunciado proferido pelo autor, em geral é orientado para um acabamento de sentido, mediante a formulação de seqüências lingüísticas verbalizadas ou imagéticas de pensamento. Elas operam sobre a cognição dos interlocutores, objetivando o ato de compreender a significação do enunciado e do estabelecimento de relações entre outros enunciados (social, histórico e ideológico). Para caracterizar a análise da situação no tempo-espaço, é necessário examinar o horizonte compartilhado pelos interlocutores (O fator histórico - A história da arte). etc, etc, ...
Em relação a tecnologia?
Ela deve ser pensada como "Tecnologia na Educação". O olhar envolve outras formas de ensinar e de aprender. Levando em conta o paradigma da sociedade do conhecimento. As tecnologias educacionais tem sido concebidas (incluindo aquelas que fazem uso da informática) para superar os limites impostos pela realidade do estudante. Ou seja, buscam propiciar aos estudantes o acesso à informação e ao conhecimento. O paradigma das "tecnologias na educação em relação a sociedade do conhecimento" se fundamentariam nos princípios de: diversidade, integração e complexidade.
Nos primórdios da computação, poucos foram os pesquisadores que possuíam o ideal de aproximar a tecnologia computacional do homem comum. Dentre estes pesquisadores cito: Vannevar Bush, Douglas Engelbart e Alan Kay. Como expoente deles, destaco Alan Kay. Já em 1968, ele pensava o computador como uma “meta-mídia”, com o poder de representação e expressão nunca antes concebidos.
“The protean nature of the computer is such that it can act like a machine or like a language to be shaped and exploited. It is a medium that can dynamically simulate the details of any other medium, including media that cannot exist physically. It is not a tool, although it can act like many tools. It is the first metamedium and, as such, it has degrees of freedom for representation and expression never before encountered and as yet barely investigated.”Alan Kay acreditava que esta “meta-mídia” seria responsável pela convergência tecnológica e instituiria novos espaços de comunicação. Para tanto, idealizou o seu Dynabook, uma máquina possuidora de uma flexíbilidade para criar e manipular simbolos (ênfase sobre a simulação).
“Every message is, in one sense or another, a simulation of some idea. It may be representational or abstract. The essence of a medium is very much dependent on the way messages are embedded, changed, and viewed. Although digital computers were originally designed to do arithmetic computations, the ability to simulate the details of any descriptive model means that the computer, viewed as a medium itself, can be all other media if the embedding and viewing methods are sufficiently well provided.”
Existe uma grande influência das palavras de Marshall McLuhan na citação acima. O famoso slogan “o meio é a mensagem” que gerou uma mudança radical nas noções dominantes das relações entre mídia, mensagens, emissor e receptores estão presentes. A essência da mensagem era que o meio de comunicação tem o poder para “amoldar nossos padrões de interação”.
Sendo assim, acredito que as tecnologias digitais podem potencializar a ação do professor (ensino) e colaborar para o processo de compreensão do tema de estudo pelo estudante (inferências lógicas, semânticas, pragmáticas, cognitivas, dentre outras.). A compreensão é vista como uma atividade de seleção, recordação, reordenação e reconstrução. Não é um processo preciso e sim uma atividade dialógica que se dá na relação com o outro. Desta forma, as tecnologias digitais deveriam priorizar atos interativos, coletivos e cooperativos.
Entretanto, nossa compreensão não pode entrar em contradição com a verdade das proposições do objeto de estudo. Por exemplo, a análise de uma pintura cubista. Devemos estar atentos às extrapolações ao tema, ou seja, aos horizontes ou perspectivas diversas.
Horizontes de compreensão
- Falseamento – Horizonte indevido
- Extrapolações – Horizonte problemático
- Inferências possíveis – Horizonte máximo
- Paráfrases – Horizonte mínimo
- Cópia – Falta de horizonte
Compreender é produzir esquemas cognitivos compatíveis que preservem o valor-verdadeiro do objeto. Segundo Piajet, os esquemas são estruturas mentais pelas quais os indivíduos organizam intelectualmente o meio. Eles se modificam com o desenvolvimento mental e se tornam cada vez mais refinados na medida em que a pessoa é mais apta a generalizar os estímulos.
Sendo assim, o ato de compreender envolve a produção ou o refinamento dos esquemas pré-existentes no indivíduo. Os processos de assimilação e acomodação são os responsáveis por essas mudanças nas estruturas cognitivas.
As Tecnologia na Educação são um meio e não um fim?- Suporte teórico: Marshall McLuhan, Levy e Zygmunt Bauman.
O meu problema: como projetar objetos de aprendizagem?
1) As características tecnológicas foram mapeadas:
- Flexibilidade
- Facilidade para atualização
- Customização
- Interoperabilidade
- Reutilização
- Padronização
2) As características didático-pedagógicas
- Quais serias elas para o ensino da cultura visual, da arte e da literatura.
- Uma obra de arte é possuidora de textualidade?
- Como analisar a obra de arte tendo em vista os aspectos “leitura, interpretação e produção de textualidades”?
- Como trabalhar a temática “cultura visual, arte e a literatura” em sala de aula?
Abaixo uma lista de livros que estou lendo:
- Estética
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
ROSENFIELD, K. H. L. Estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. - Metodologia de ensino x teoria da arte
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 2008.
CAUQUELIN, Anne. Frequentar os incorporais - contribuição a uma teoria da arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2008. - Textualidade
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 3 ed., São Paulo: Hucitec, 1986.
BARTHES, Roland. A análise estrutural da narrativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
SANTAELLA, Lucia; NOTH, Winfried. Imagem - cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1997.
Nenhum comentário:
Postar um comentário